A
apatia intelectual de um povo, retrata o panorama da cultura brasileira e do
teatro de meados dos anos 70, o que parece que não mudou muito nesses nossos tempos. Questões medíocres e respostas manipuladas por
uma burguesia decadente, dão os traços de um teatro abalado e sem nenhum poder
de transformação. O TBC agora toma o lugar de controle, um controle burro,
feito por uma burguesia iludida com tempos áureos do teatro europeu, que carece
de subversões poderosas e efetivas em um país como o Brasil da ditadura, com
isso surge o inovador trabalho do grupo Oficina Uzyna – Uzona dirigido por José
Celso Martinêz Correa, reinventando a forma de fazer teatro e inaugurando o
tropicalismo nas artes cênica, com a peça de Oswald de Andrade, O Rei da Vela.
O
Teatro feito no Oficina por Zé Celso é um rito, algo que necessariamente
precisava ser criado frente a situação politica que se vivia em 68, uma
carência dessa arte tátil e próxima do seu interlocutor, que fosse assim uma
experiência vivida pelo povo, como o carnaval e a macumba, ou teatro. O oficina
vem incluir , convidar o espectador a participar , transformando atores e
“espectatores” , em uma embriagues total da atmosfera de excitação proposta por
suas peças, uma orgia emocional , carnal, vivaz que nos leva a comunhão com
nossos deuses e demônios.
O
ressurgimento deste teatro orgástico, desse vulgarmente chamado paganismo da
libertação total deu espaço a Tropicália e a obras como Terra em Transe e O rei
da Vela, essa forma de fazer arte através da libertação sexual da orgia e do
carnaval, da ópera, transformasse em algo profundamente ético , pois é o
ressurgimento do ser como humano, único, erótico , e é pelo erotismo que
podemos conceber a vida, e é tão somente pela vida que podemos conceber o
teatro.
Dina Sfat - O Rei da Vela |
Enfim,
o poder da subversão da forma reside em um fazer teatral engajado como foi o
Rei da Vela, preocupado com a arte , debruçado na opinião de cada um , dando
espaço e voz para os atores e convidando o público a pensar de uma forma livre
e descomprometida , com violência escancarada que atingi de alguma forma o povo
que vibra forte, “ou ama, ou odeia”, o que está acontecendo como manifesto de
aceitação ou resistência de sua nova condição de transformado, nunca passaremos
imutáveis por nenhuma obra de Zé Celso. Evoé!