quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Crítica - Espetáculo Cachorro

Dramaturgia é tudo.

No inicio me parecia mais um melodrama onde o triângulo amoroso uns dos grandes clichês das artes cênicas seria abordado. 
Porém, a referencia ao universo rodriguiano foi assumida , nosso maior dramaturgo e profundo conhecedor da alma humana, com todas as suas grandezas e abjeções.  Jô Bilac,o autor é objetivo e não esconde suas inspirações o que nos faz pensar no obvio, "Cachorro!" no Teatro Maria Clara Machado, com direção de Vinicius Arneiro e no elenco  Felipe Abib, Carolina Pismel e Paulo Verlings.
Tudo fica em torno de um casal cuja esposa trai o marido com o melhor amigo dele. E o enredo também é preivisível: os amantes oscilam entre assumir a relação, contando a verdade ao traido esposo, ou simplesmente fugirem juntos. Mas também chegam a considerar a hipótese de se suicidarem, bem ao estilo rodriguiano.
gostaría de ressaltar a excelente qualidade do texto, os ótimos diálogos e personagens muito bem construídos. E sobretudo a capacidade de Jô Bilac de prestar um tributo a Nelson Rodrigues sem tentar, em nenhum momento, copiar seu estilo. Nelson é uma clara referência, evidentemente, mas o jovem autor consegue imprimir sua marca, mesclando com grande habilidade momentos trágicos e hilariantes. Sem dúvida, Jô Bilac é uma grande revelação, ao menos para nós, que não conhecíamos nenhuma outra peça de sua autoria.
Quanto ao espetáculo, Vinicius Arneiro impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o texto. O diretor cria marcas inventivas e imprevistas, e não raro impregnadas de gestos e movimentos coreográficos, sendo tudo executado com extrema precisão pelo jovem elenco. Felip Abib, Carolina Pismel e Paulo Verlings exibem muitas qualidades, tanto vocais como corporais. Além disso, entregam-se com alegria e extrema disciplina ao jogo cênico proposto pelo encenador, e certamente a soma dessas virtudes contribui decisivamente para a empatia que estabelecem com os espectadores.
Na equipe técnica, Paulo César Medeiros assina uma luz expressiva, decisiva para enfatizar os múltiplos climas emocionais em jogo. Também destacamos o ótimo cenário de Daniele Geammal, composto basicamente de luminárias e praticáveis transparentes constantemente manipulados pelos atores. Júlia Marini responde por corretos figurinos, a mesma correção presente na trilha sonora de Diogo Ahmed.
O espetáculo digno da nova safra de artístas teatrais , muita qualidade e expressividade em todas as premissas do teatro, o que me faz pensar que depois da ditadura restou algum artísta, o que todos os dias vejo pessoas pregando que depois disso só  as sobras ou a tentativa de uma arte ineficiente.