terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Charlles Möller Falando de Musicais.

“Quando a gente começou, há 20 anos, era uma coisa quase utópica falar de musical no Brasil. Éramos jovens e com alguma arrogância. Começamos pequenininhos, fazendo algumas brincadeiras no Teatro Ipanema. A gente percebeu que existia ali um filão que estava abandonado”.

“Nosso grande tiro ao alvo foi em ‘As Malvadas’, quando começamos a entender que a grande coisa do musical era a catarse da canção. Percebemos que havia uma plateia para escutar aquela canção, que no musical é o monólogo. É o “ser ou não ser’ de Shakespeare. Entendemos que ali havia um público a ser formado”.

“O musical traz um casamento com a plateia. A plateia brasileira ama o musical.

“Agora os atores que querem fazer musical têm um mercado. E um mercado competitivo. As pessoas estão cada vez mais preparadas e melhores. O teste do ‘Hair’ foi uma coisa assustadora. Eu tive um break down, não sabia quem escolher. Dava para montar três espetáculos ótimos”.

“O artista tem que estar comprometido com a sua plateia, tem que estar comprometido com quem o assiste. Durante muito tempo achei que quem nos assistia eram as velhinhas das vans e só. Eu ficava espantado com a falta de possibilidade de outro tipo de plateia. Não vinham homens. Jovens então, nem pensar. Eu ficava pensando: cadê esse público? Onde ele está? Isso demorou muito a chegar. Mas que bom que hoje já podemos desfrutar disso”.

“Só existe o agora. A gente não pode materializar o passado e não existe o futuro. Só existe esse momento. Então temos que estar sempre no nosso maior e melhor momento. É o poder do agora. Tudo que se aplica no musical, se aplica na vida. Não tem nenhuma diferença do palco para a vida. É tudo igual. Na depressão a pessoa não consegue viver no agora. Ela fica com saudade daquilo que foi ou que não foi fica com expectativa de um futuro que não virá. Então nós temos que ser precisos naquele momento”.

“O musical foi muito desvalorizado pela crítica e pela imprensa. Aos poucos a gente começou a ganhar respeito e hoje somos muito acarinhados. Fico muito emocionado quando vejo atores dos meus elencos sendo indicados a prêmios”.

“Inteligência emocional é um paradoxo e eu adoro paradoxos. Você tem o controle daquela nota, daquela marca, daquela alegoria que o diretor te pede, mas se você só fizer isso com a cabeça, vai ficar uma casca. Não vai ter nada”.

“Gosto de trabalhar com o conceito do DNA, que é algo intransferível, é só pra você, é a sua marca. É a tua digital. Eu dou um DNA coletivo e peço que o ator crie seu próprio DNA, que será a opinião que ele tem do personagem dele, uma intuição dele”.