sábado, 4 de maio de 2013

Jubaia - O Recanto das Cores



Um sonho que se sonha só é apenas um sonho , agora um sonho coletivo e que já dura mais de 6 anos é muita realidade, com muita garra e união o grupo Loucatores segue trilhando a sua história de sucessos e desenvolvimento dentro do teatro, desta vez tive o prazer de assistir "Jubaia, O Recanto das Cores",  no Teatro Ziembinski, o espetáculo trás para a cena uma divertida e criativa aventura pelo interior do Brasil, as cores do arco-iris  são as responsáveis por dar vida a história que tem como pano de fundo a diversidade e a igualdade , em um lugar fantástico chamado Jubaia é onde acontece a união de todas as cores, com sol e chuva podemos então vislumbrar o arco-iris. 

  A ordem deste lugar é desfeita quando a cor preta ( Apiúna) tenta de alguma forma se integrar ao grupo que o rejeita, então começa a aventura, triste pelo fato de ser excluído Apiúna vai embora para o Brasil, como que por acidente a cor azul , Cauê, desaparece e o grupo acredita que Apiúna levou a cor azul. Viajando pelo Brasil em seus meios de transportes criativos eles encontram a diversidade da cultura brasileira. Embalada pelo ritmo nordestino, o espetáculo leva ao palco música ao vivo e personagens bem conhecidos de contos brasileiros, como o boi bumbá e o negrinho do pastoreio e a curiosa história do açaí.

  O grupo tem amadurecido artisticamente, falo isso porque já vi outros trabalhos deles.
O texto de "Jubaia" escrito por Anderson Alcantara e Léo Torres, carece de cuidados dramatúrgicos ou apropriação da linguagem adotada. A direção de Daniel Ferrão  é o correta , transformando a história em uma gostosa aventura cheia de criatividade , possibilidades adaptadas e uma influência forte de um outro grupo chamado " Trupe do Experimento" , boa referência, porém , repetida em várias ações  , como por exemplo a abertura e fechamento da peça, suas marcas são inteligentes ágeis e dinâmicas, o inicio é um pouco lento, os atores iniciam todos dormindo e a cor preta abre o pano com uma narração de como o sol e a Chuva concebem o arco-iris, não conseguindo conquistar o público , por ser estranha a forma com que conduz o corpo e um sotaque que prejudica muito o entendimento da história. 
O ponto alto do espetáculo é com certeza as soluções de iluminação feita pelos atores para pintar o arco-iris, uma bela ideia que trás lanternas coloridas , sendo sempre muito bem usadas: em um disco voador, na formação do arco-iris e tantas outras cenas. A viajem das cores operárias se dá através de lindos adereços cênicos, que ilustram de forma lúdica, as longas trajetórias em busca da cor azul, um disco voador, um carro , um barco , tudo isso toma  vida diante de nossos olhos e arrebata o público que sempre espera por uma nova possibilidade de viajar pela cultura brasileira.
Os atores são de forma geral interessantes, merecendo destaque Anderson Alcantara, seguro e marcante em cena, talvez por ser o representante da cor vermelha e Dyogo Botelho apresenta um verde "descolado"  , apropriado de sua personagem, ele transita com destreza pela história;  já no elenco feminino, as cores são uniformes, tendo um trabalho mais elaborado a atriz Pollyana Machado que faz vários personagens ao longo da trama e que acaba sendo prejudica pelo seu boi que a deixa abafada e pouco clara as suas falas.
O cenário de " Jubaia " está de acordo com a história, há um cuidado com os mínimos detalhes e novamente as escolhas do diretor se destacam com uma referencia ao trabalho de Romero Brito. A banda na coxia em muitos momentos não é ouvida e acaba muitas vezes sendo desnecessária as suas intervenções,  os atores cantam com dificuldades , mas acreditam em suas personagem e isso é o que basta.
Enfim, brilhante direção , com bons atores, alguns com dificuldades, texto divertido , crianças atentas e boas histórias , receita para agradar a todos.
Assim é que se faz teatro com união , algumas dificuldades, muita força de vontade e uma generosa pitada de criatividade , um salve a Jubaia e um muito obrigado aos Loucatores que continuam na estrada mostrando o seu trabalho e sempre buscando a excelência no teatro para o público infantil. 

sábado, 6 de abril de 2013

O poder da subversão da forma.



A apatia intelectual de um povo, retrata o panorama da cultura brasileira e do teatro de meados dos anos 70, o que parece que não mudou muito nesses nossos tempos. Questões medíocres e respostas manipuladas por uma burguesia decadente, dão os traços de um teatro abalado e sem nenhum poder de transformação. O TBC agora toma o lugar de controle, um controle burro, feito por uma burguesia iludida com tempos áureos do teatro europeu, que carece de subversões poderosas e efetivas em um país como o Brasil da ditadura, com isso surge o inovador trabalho do grupo Oficina Uzyna – Uzona dirigido por José Celso Martinêz Correa, reinventando a forma de fazer teatro e inaugurando o tropicalismo nas artes cênica, com a peça de Oswald de Andrade, O Rei da Vela.

O Teatro feito no Oficina por Zé Celso é um rito, algo que necessariamente precisava ser criado frente a situação politica que se vivia em 68, uma carência dessa arte tátil e próxima do seu interlocutor, que fosse assim uma experiência vivida pelo povo, como o carnaval e a macumba, ou teatro. O oficina vem incluir , convidar o espectador a participar , transformando atores e “espectatores” , em uma embriagues total da atmosfera de excitação proposta por suas peças, uma orgia emocional , carnal, vivaz que nos leva a comunhão com nossos deuses e demônios.

O ressurgimento deste teatro orgástico, desse vulgarmente chamado paganismo da libertação total deu espaço a Tropicália e a obras como Terra em Transe e O rei da Vela, essa forma de fazer arte através da libertação sexual da orgia e do carnaval, da ópera, transformasse em algo profundamente ético , pois é o ressurgimento do ser como humano, único, erótico , e é pelo erotismo que podemos conceber a vida, e é tão somente pela vida que podemos conceber o teatro.
Dina Sfat - O Rei da Vela

Enfim, o poder da subversão da forma reside em um fazer teatral engajado como foi o Rei da Vela, preocupado com a arte , debruçado na opinião de cada um , dando espaço e voz para os atores e convidando o público a pensar de uma forma livre e descomprometida , com violência escancarada que atingi de alguma forma o povo que vibra forte, “ou ama, ou odeia”, o que está acontecendo como manifesto de aceitação ou resistência de sua nova condição de transformado, nunca passaremos imutáveis por nenhuma obra de Zé Celso. Evoé!