quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Artaud - A cruel arte de Viver.

Artaud acreditava em um teatro que poderia mudar a vida do homem e nunca dissociaria o teatro da vida, sendo um, conseqüência do outro.


Os jogos dramáticos sugeridos por Artaud são embasados em algo mais profundo, buscando um significado para a palavra como objeto, baseando na própria vida os reais motivos para a dramatização, assim como a palavra, a performance e os símbolos são de relevante importância no trabalho de Artaud, revelando com este processo maiores possibilidades cênicas de aguçar a todos os sentidos , e desta maneira criar uma arte mais “completa”, que toque o ser não só no seu intelecto mas também em sua alma mais profunda.

O Cárcere – Mantido em confinamento por vários anos em manicômios diferentes, Artaud, teve sua vida esvaziada como relata com o tratamento de eletro-choque, acreditando que os loucos eram assim mantidos por proferir verdades intoleráveis pela sociedade, diante disso negava com toda força o homem e sua desprezível existência, em suma, negava a vida.
O Van Gogh - o suicidado pela sociedade ocidental que nega de toda a forma os seus gênios, nomeando genialidade de loucura, a intolerável vida para Gogh já exerce sua maior força e coloca o artista frente ao seu maior dilema a morte.

Este artista foi o emblema do gênio incompreendido para Artaud que segundo sua visão encerava em sua arte toda lucidez artística e uma sensibilidade espiritual impar, inerente a todo verdadeiro artista.

A Crueldade – de onde emerge a repulsa e o desespero pelo resgate de sua identidade, uma tentativa forçada do reencontro de suas idéias e o fracasso de sua busca, isso é crueldade, esse esforço, esse manifesto, esse grito de dor, esse delírio lúcido que Artaud vivia asperamente todos os dias.
A Arte – Artaud nos oferece a real dimensão de um artista que luta com todas as forças e resiste a todas as crueldades em nome de uma crença, uma utopia e que mesmo do nada absoluto o ser pensante é capaz de reinventar a sua própria vida e tonificar novamente a sua imaginação e com esta nova possibilidade encontrar novas razões para viver.

domingo, 29 de novembro de 2009

Crítica - Um lugar chamado recanto.

Mais que um simples recanto de mundo, a história se passa num cenário de amor, marcado pela traição, pelo egoísmo e pelo arrependimento.


Num vilarejo do sertão mineiro, Zizinha assiste ao nascimento da irmã, Ana. O desafeto já norteia o caminho das duas desde o primeiro olhar de Zizinha para a recém-nascida. Com o passar dos anos o que era simplesmente ciúme transforma-se em ódio.

O motivo de toda a discórdia, nessa nova fase da vida das irmãs, não é mais a disputa pelo amor paterno, e sim o desejo ardente e doentio de Zizinha por João Andorinha, o par e grande amor de sua irmã.

Num trato de conseqüências cegas e dolorosas, Zizinha pede que a Morte, sujeito traiçoeiro e manipulador, leve a irmã em troca de sua “pureza”. Trato feito! O recanto nunca mais será o mesmo...

A peça de Fred Mayrink que também assina a direção, que digamos foi belamente executada por ele, com cenas comuns sendo potencializadas por suas idéias de entradas e saídas, soluções arrojadas de cenários e trocas de cenas.
O elenco espetacular muito bem preparado de cantores muito bem reparados salvo a substituição do protagonista que não tinha grande potencia vocal o que deixava o musical um pouco cinza, por apresentar uma necessidade básica de formas mais viscerais, se o objetivo era emocionar o público com essa história de amor o intento do espetáculo não foi alcançado, porém se o objetivo maior era primar pelas formas apresentadas parabéns foi ótimo.

Nívea Stelmann apresenta um trabalho apenas correto, pois, seu personagem não lhe oferece maiores possibilidades e também a atriz não canta o que perde um pouco o encanto musical.

Não podemos esquecer-nos das belas interpretações de Camila Caputti e Cláudio Galvan, ambos perfeitos.

Cenário, figurinos e iluminação estão todos ligados e muito bem feitos e o principal tudo tem um propósito em cena o que enriqueceu ainda mais a direção de Mayrink, devemos citar os tropeços das músicas algumas não são muito boas e não fecham com o tom dos atores principalmente os homens. Mas de uma forma geral o espetáculo é belo e um pouco previsível.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Crítica - Laranja Azul

Tudo branco. Assim como os jalecos que cada espectador deve usar para assistir à peça “Laranja azul”, em cartaz no CCBB, as arquibancadas , as cadeiras, as paredes o chão , toda a ambientação em branco total. O cenário é incrível. Os espectadores, são divididos em dois grupos ficam frente a frente nas extremidades da “sala”, no meio um espaço montado, fechado, todo de vidro, onde se passa a ação. Lá fica a sala dos psiquiatras de uma clínica. É lá que eles discutem a situação de um interno, um esquizofrênico negro, vindo da periferia.

Um dos médicos é Dr. Foster (Rogério Fróes), diretor da clínica. Um senhor. O outro, Dr. Greg (Pedro Brício), o típico residente idealista. Eles divergem sobre o diagnóstico de um paciente, Christian (Rocco Pitanga) e, conforme as discussões vão surgindo, percebe-se que há muito mais nesta trama do que apenas a causa médica: política, dinheiro, preconceito racial, preconceito de classes, preconceito com a situação mental do paciente, realização pessoal. Cada um defende o seu ponto de vista, enquanto Christian fica de um lado para outro, sem saber qual caminho seguir.
A peça é rápida e coloca público em reflexão sobre o quanto os interesses de cada um pode sobrepor ao bem de outro.

O texto, inédito por aqui e premiadíssimo lá fora, é do inglês Joe Penhall e o material virou um prato cheio na mão do ator-diretor Guilherme Leme, atores e direção tem uma química ímpar o que de uma forma geral prende o público do início ao fim , como a peça só pode ser bem executada se houverem ótimos atores o elenco foi de primeiríssima linha.

domingo, 15 de novembro de 2009

A Tartaruga de Darwin


A peça de Juan Mayorga apresenta uma fábula fantástica sobre a história mundial contemporânea, onde realidade e fantasia se misturam por meio da figura de Harriet (Cristina Pereira), uma tartaruga que Charles Darwin trouxe das Ilhas Galápagos e que está em processo de evolução para a forma humana. Harriet presenciou algumas das mais importantes passagens históricas dos séculos 19 e 20.

Depois de viver 200 anos de história, a tartaruga tornou-se alvo de uma disputa entre dois Professores, um historiador interpretado por Paulo Betti e um cientista vivido por Rafael Ponzi, (ambos também diretores). Além disso, ela desperta o ciúme de Bete, mulher do historiador (Vera Fajardo), já que este só tem olhos e ouvidos para as revelações da mulher tartaruga.


A tentativa de ser cômica e interessante torna a peça de uma forma geral pobre, não se sabe ao certo se estamos presenciando um drama, uma comédia, ou até mesmo uma aula de história. A idea central é clara; mostrar 200 anos de história pela perspectiva de uma tartaruga, mas a abordagem torna tudo previsível e cansativo, ao introduzir um novo assunto o público já sabe de que acontecimento está se falando. Talvez um flerte com os intelectuais ou mesmo um relato histórico bem apanhado, mas deixa a desejar no quesito criatividade e teatralidade.

Direção e elenco dialogam bem, porém o texto não oferece grandes possibilidades, nem de direção ou mesmo de atuação, oferecendo destaque aqui a brilhante atuação de Cristina Pereira, que aproveita de uma forma muito inteligente e dinâmica todas as possibilidades pobres do texto, os outros atores frente às circunstâncias do texto cumprem um trabalho correto e às vezes exagerado ao que diz respeito aos homens.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cia Atores de Oliveira - COMEMORA EM GRANDE ESTILO ANIVERSÁRIO de "BOBOS" em Macaé!!!


AOS ATORES DE OLIVEIRA,

Vocês não sabem o quanto estou emocionado, por descobrir que nosso amado projeto completa neste domingo 1 ano de existência , junto com essa companhia que amo tanto, e quando falo que amo estou me referindo as pessoas que nela estão.

Amo mesmo vocês não sabem o quanto.

Saber que um projeto tão lindo conseguiu resistir a este tempo é a esperança de que teremos muito sucesso juntos, e de certa forma já temos, somos lindos, talentosos, sensiveis e brilhantescada um com suas qualidades e defeitos, amo-los demasiadamente.

Espero que alimentem o mesmo amor por essa CIA. e por nossas amizades.

Dia 08 será especial para o Bobos , em um país onde tudo é dificil , onde fazer arte é um desafio maior ainda nós , os Atores de Oliveira, conseguimos....Chegamos à 1 ano.comemoraremos em grande estilo no Teatro Municipal de Macaé.

Quando insisto no nome de nossa CIA. é por que quero levantar um nome de um grupo sólido e sério, e com vocês , pois , teatro não é feito sozinho, mas sim coletivamente, é único os momentos que vivo com você, é extremamente compensador ver vocês vivendo o sonho da arte e o amor e respeito por um projeto coletivo que é nossa companhia, somos artistas , nos amamos e devemos estar juntos nesta caminhada.

Que eu possa estar plantando em cada um a semente da alegria , do entusismo e da garra para nossa caminhada nesta CIA. , queremos ser um Galpão, um Oficina, um Macunaima, mas para isso acontecer devemos ter amor pelo nosso trabalho e muito empenho.

Acredito em todos, Silvanah, Fernando, Léo, Max, Luiza, Livia, César, Maico, Marcia, Vitória, Cintia, Gionvanna,Andrew,Rafael, Paulo, Carol, Luana, Claudia, André, Suzana, Elvis, David, Renato, Luis Renato, Richard. Amanda, Andréa e tantos outros que já passaram por aqui

Gente não paro de chorar de emoção , por saber o quanto trabahamos pelo BOBOS,o quanto todos perderam , o quanto todos abriram mão de outras coisas pelo nosso espetáculo.

Muito Obrigado meus Anjos da Guarda, amo cada vez mais vocês por permitirem essa felicidade em nossos corações.

Desestruturei toda a minha vida por causa do Bobos , perdi minha dignidade, acabei com minha vida pessoal , batalhei muito,passei muita dificuldade,mas acreditem valeu a pena tudo isso.
Fiz por amor e acreditem tudo que é feito por amor sempre será recompensado.

Vamos ser felizes nos divertir e amar muito.
Nós merecemos o melhor que a vida tem a oferecer.


Com muito amor, carinho e respeito
O diretor que sempre pensa no melhor para todos:
Leonardo da Silva Oliveira.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Crítica - "Uma História de Borboletas" - Experiência única!


Baseado no conto de Caio Fernando Abreu, o espetáculo Uma História de Borboletas aborda a trajetória de pessoas que ao se desprenderem de suas realidades, veem borboletas saírem de dentro de suas cabeças. O diálogo dos personagens mostra a necessidade de enxergar além da superfície das coisas, assim como a tênue fronteira que existe entre a lucidez e a loucura. Com roteiro e direção de Marcelo Aquino, a peça em cartaz no Espaço Dois do Centro Cultural Solar de Botafogo coloca no palco: loucura, dependência, musica e a ilusão de poder voar junto as borboletas.


Percebese desde o inicio da execução da peça que houve um cuidado da direção com relação aos signos postos em cena muito bem utilizados pelos atores e muito claros para a platéia as bosboletas ficam convencionadas como os nossos sonhos e esperanças , atores falando com uma veemencia de dar inveja com um largo preparo corporal que reflete da ótima execução das falas e que mantem o ritmo e a tensão dramática o tempo todo sem nos fazer perder o interesse mesmo pelos atores menos preparados como Cyrilo e Marcos , que também não deixaram de brilhar em algum momento da peça a direção de Marcelo é brilhante explorando todas as possibilidades espaciais do local de encenação as musicas muito bem escolhidas são tocadas ao vivo, ao longo da peça sente-se uma atmosfera sempre muito emocionada de todos que assistim, as lágrimas são quase que inevitáveis quando nos identificamos com algum dos dialogos de Caio.

O mundo hoje do consumo rápido e descartável, de convenções estabelecidas, de rápida comunicação, de pimpilhar de hiper-ligações segrega a alteridade, a poesia, o viver e efêmero para sua margem. Marginalizados, seres amantes, seres sensíveis, seres voadores, seres alados, seres poetas tentam sobrevoar para fora da margem-prisão e se o fazem ou não, cabe a quem os assiste aceitar o convite com eles (atores, atrizes e músicos) lindamente voar.
Um brinco , uma pérola, um pequeno diamante, uma linda e fugaz borboleta ali voando de dentro pra fora das nossas cabeças , basta estar presente na hora da peça pra vivê-la.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Crítica - Todo Amor que Houver nesta Vida.

Uma Coleção de enganos.



É estranho constatar mas me parece que um certo modismo azola as artes , mais em especifico as cênicas como cinema, teatro e tv, é bem desconfortante perceber que destes modismos se incluem as opções sexuais que se tornam um pouco confusas com o desenrolar de nosso novíssimo século 21.

O que eu quero dizer é que temos uma tendencia clara ao homossexualismo na arte em geral , que estamos passando por um estranha mutação sem precedentes que tem mudado a forma de pensar a arte no mundo e ai , já sinalizando uma nova era., será a era gay, não estou sendo homofóbico , pois, minha opção sexual me trairia, porém coloco a percepção que tenho tido desse movimento tipo parada gay, preste atenção: Seriados americanos com casais gay, filmes, peças das mais variadas contado o cotidiano gay e fazendo apologias contra a homofobia, com os mais variados tipos do travestis, passando pela Drag queens e chegando ao menos caricato dos personagens, o homem normal que decide viver com outro homem.

“Todo amor que houver nessa vida”, com direção de sei lá quem , pois nem programa havia para o público e texto de Rogério Garcia é encenada no porão da Casa de Cultura Laura Alvin .

A peça trata basicamente de dois assuntos universais, por vezes correlatos, por vezes mitificados: o amor e o preconceito. O amor, como eixo central, aparece em um casal gay. O preconceito, como pano de fundo, toma maiores amplitudes e surge como uma questão social, intelectual e sexual.

A peça é baseada em um fato real: a morte do professor universitário Brian, que sofre muito com o preconceito e acaba morrendo de AIDS, o que se descobre depois que não se tratava desta patologia e sim de um câncer.

Com uma visão, talvez panorâmica, onde poderíamos nos apegar a algo concreto, como , a dramaturgia, por exemplo, percebemos ou ainda deixamos de perceber o quanto é mais fácil ir para o fácil. A peça , não surpreende, e não conduz o espectador, rebatendo assuntos tão cansados de tão usados, que fica difícil gostar ou odiar a peça.. O tema,“homossexual” é abusivo e escrachado causando um certo mal estar , com beijos e caricias extremamente desnecessárias . A “mensagem” não seja preconceituoso, respeite os outros como são” é tão conhecida e tão bem falada por outros meios,os quais já citei que o espetáculo mesmo se esforçando, não faz nada apenas do que chover no molhado. A direção é um conjunto de equívocos ,um atrás do outro, quase prejudicando o próprio espetáculo, indo contra o próprio texto, que é a base central de toda a história falada, mesmo sendo essa comum, ainda é mais interessante que a abordagem dramática, ou não sendo injusto, melodramáticas que sublinham a peça. Mas isso ainda não é o grande problema de “Todo o amor que houver nesta vida”,há ainda dois maiores: o total desequilíbrio na atuação dos dois atores, onde um pare-se estar indo para o norte e o outro não vai a lugar algum, e claro, o despejo de clichês ordinários e pouco esclarecedores, em cima do público, que tinha claro em seus semblantes a falta de comoção ou surpresa diante de tal peça.

Durante a apresentação, a peça também convida a platéia a experimentar um certo contato com o público distribuindo abraços longos e desconcertantes a qualquer um.

Com significações quase infantis e reforçadas pela repetição da primeira cena que causa um completo desentendimento do peça, fica apenas a certeza de que não podemos de forma alguma tentar “catequizar” com o teatro, abordar o preconceito e colocar uma visão de opção sexual é delicado, a linha do artístico e do didático é tênue e como sabemos não podemos e nunca devemos entrar nesta linha , pois, o teatro é arte, e arte não educa, faz pensar e ai a direção e também a pseudo-dramaturgia erra feio.